Futebol, afeto e coisas importantes

Thiago Vieira
2 min readDec 11, 2020

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A qualidade da foto tá péssima, mas essa é a melhor imagem pra ilustrar esse texto

O futebol é a coisa mais importante dentre as coisas menos importantes. Não fui eu quem disse, mas Arrigo Sacchi, vice-campeão mundial de 1994 pela Itália. O fato é que uma bola no meio de um campo faz uma diferença danada na minha vida. E na vida em geral.

Eu já entrei em discussão com gente que aponta o esporte mais popular do mundo como um elemento do pão e circo. E eu amo essa discussão porque eu sempre ganho ela. E eu amo ganhar uma discussão. Mas o ponto desse texto é tentar colocar a importância do futebol distanciando da leitura de que o ele reflete a sociedade ou explica o mundo.

Eu poderia dizer como a Itália campeã de 1938 foi importante propaganda do fascismo de Mussolini com as camisas negras, ou como a Alemanha destroçada pela guerra ergueu um título mundial só nove anos depois da derrota e o impacto na autoestima do seu povo. Podia ainda lembrar de como a Democracia Corinthiana fez parte de um imaginário contra a ditadura ou de como as mudanças no Maracanã e nos estádios do Brasil e do mundo refletem as alterações urbanas e dinâmicas sociais de uma cidade.

Mas tem gente que faz isso melhor do que eu.

Eu acho que, além de tudo isso, o futebol faz parte de um espectro da vida que é um pouco dispensado de discussões mais acadêmicas e sérias sobre o esporte que é o afeto. Às vezes ir a um jogo é um escape, como sugere quem defende a teoria do pão e circo. Mas eu sempre me perguntei por que esse escape diminui a dimensão do futebol como um movimento cultural.

Lutar politicamente, reconhecer desigualdades e enfrentar estruturas sociais são, sem dúvida, papéis essenciais numa democracia que a gente acredita. E o futebol pode ser usado para isso. Mas nesse meio tempo, às vezes a gente precisa esquecer tudo isso e encarar um jogo só como… um jogo. Fazer amigos, reclamar por coisas menores, beber em derrotas e mais ainda em vitórias.

Estar cercado de pessoas que eu gosto, conversando sobre algo aparentemente menos importante é possivelmente o que nos faz ter alguma vontade de lutar por algo. É entrar num estádio, olhar ao redor e achar que o mundo pode ser um lugar melhor. Que a gente pode ser mais feliz.

O futebol me enraíza geograficamente, me aproxima de pessoas e cria memórias rotineiramente. E isso tudo é afeto. E afeto talvez seja a coisa mais importante para que a gente busque as coisas mais importantes.

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Thiago Vieira

às vezes eu falo sério, às vezes não. geralmente não.